domingo, 25 de julho de 2010


Descalça percorro o chão gelado seguindo o trilho imaginário deixado pela presença antiga tantas vezes renovada num sem fim de invenções hoje arrumadas na gaveta.
Descalça, vou-me aproximando da caixa onde há alguns anos guardo o violino. Descalça, deslizo vagarosamente os dedos pelas cordas como se cada uma retivesse uma parte da história vivida e de um futuro (agora) tão incerto.
Descalça abro a janela e deixo o sol bater-me na cara enquanto rodopio no chão ainda gelado. Descalça, saio para o jardim e deito-me na relva que cheira a sonho e a maresia. Descalça olho parao céu, enquanto as nuvens me vão falando sobre dias em que o céu me parece menos azul. Descalça, ainda estou descalça enquanto a porta se abre lentamente, ainda estou descalça quando o vestido rosa me abarca o corpo, ainda estou descalça quando brinco ao faz de conta, ainda estou descalça quando aperto as sandálias pretas e o chão, esse...ainda continua gelado. E eu continuo com as sandálias pretas nos pés e a alma, essa sim...está descalça.

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Fala-me do que sentes (L):