quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Podia abalar-te com tudo o que sinto, lançar a confusão na tua cabeça, pôr fim às noites tranquilas. Eu podia beijar-te de surpresa, fazer-te tremer, entrar na tua vida sem pedir autorização. Podia dar-te a mão sem aviso prévio ou falar-te do quanto, o pouco que de ti tenho, me faz bem. Podia beijar-te a testa e segredar-te ao ouvido o que sinto e deixar-te à porta de casa às 4 da manhã ou então não te deixar. Eu podia ouvir-te os medos e admirar a forma simples como falas das coisas complexas. Podia sossegar-te a alma ou então sair contigo para jantar, dançar,viver. Podia falar-te de amibas e paramécias e deitar-me no teu colo e achar que é o lugar mais seguro do mundo. Podia ensinar-te o prazer de ler e apertar-te a mão e rir e rir e rir e gostar de ti. E gostar muito de ti. Podia dançar pela casa e puxar-te pelo braço e ouvir-te dizer que fazes os melhores ovos estrelados do mundo. Podia deitar-me contigo na relva e deslizar o meu dedo indicador pela tua barriga delineando, em segredo, o projecto de todos os dias felizes que viveríamos. Podia ouvir-te dizer que eu nunca mais saio do banho e dizeres que não vais esperar mais e que tomas banho comigo. Podia deitar-te no meu colo e afastar-te o cabelo da cara enquanto espero que o chá aqueça. Podia ouvir-te falar dos tempos menos fáceis e dizer-te que vai correr tudo bem. Podia ficar de lágrima no canto do olho nos poucos dias em que estivesses fora e correr para ti até ao jardim e saltar-te para o colo assim que ouvisse a buzina do carro, deixando o chá a esfriar e o livro da Margarida Rebelo Pinto aberto ao acaso no sofá. Nessa altura também podia olhar perplexa os teus olhos complexos de pessoa simples e pensar no quão generosa a vida tinha sido comigo e podia rir, parar, voltar a rir e desejar que a vida nunca se esgotasse. E podia ver futebol e ouvir-te falar das jogadas e reclamar com o árbitro e rires-te da minha eterna dúvida do "fora-de-jogo". E, quem sabe, podia também num desses ditos dias, repetir-te baixinho ao ouvido que te amava, ver-te sorrir e sentir-me plena, cheia, feliz.


Só que eu olho para o teu sorriso aberto e penso que já és suficientemente feliz e que não, eu não posso.

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Fala-me do que sentes (L):